sábado, 28 de abril de 2007

Angústia da influência ?

*Mosaico exposto no VI Congresso Internacional do Mosaico Contemporâneo-2002.

o crítico americano Harold Bloom em 1973 escreveu um ensaio chamado angústia da influencia, que fala, entre outros temas, sobre a genialidade e o cânone. Para Bloom essa tal "angústia" é a sensação paralisadora que todo artista tem de seu precursor, por exemplo, como falar no gênero "conto" sem falar de nomes como Machado de Assis?, ou de poesia sem termos em mente Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes, estre outros, são estes os que chamamos canônicos. Mas Bloom fala também da dialética dessa relação, pois o precursor também é (re) criado pelo novo artista, para ele o novo artista precisa defender seu lugar ao sol para poder sobreviver ao conflito edipiano com a tradição, ou seja escapar a sombra de seu precursor. A esse herói moderno ele chamou "poeta forte".
Bem, trocando em miúdos, aquele artista admirado precisa ser "superado" por artistas da nova geração, aí vem toda a questão dos gênios, como superar um Machado de Assis, um Fernando Pessoa, um Pablo Picasso, uma Frida Kahlo, e por aí vai? Ainda mais numa sociedade pós-moderna onde o conceito de "gênio" anda em baixa, onde acredita-se que não haja mais possibilidade de se ser original?
Já recebi críticas ao meu trabalho (na sua grande maioria de gente não especializada, ou seja, não criticas de arte) pela influência com a obra de Freda, algumas especificamente, ciúmes, ou inveja, quem sabe pelo tempo que passei com a mestra em seu ateliê, compartilhando de sua companhia, história e aprendendo.
Minha admiração sempre foi explicita, aberta, ao contrário de muitos outros que, buscaram como caminho a negação e a fuga, mas fazer o que? cada um se vira como pode pra fugir dessa tal "angústia".
Bem, tenho refletido sobre o meu percurso como artista plástica, até porque vou completar 13 anos de profissão (adoro esse número!). Sinceramente, ter meu trabalho de alguma forma associado ao de Freda não me causa nenhuma angústia, pelo contrário, fico orgulhosa. A maturidade que os anos trazem, me fizeram perceber que meus constructos musivos, são "outras entidades ", são meus. Numa alegoria, quem sabe são, como por exemplo, aqueles netos que recebem como herança os olhos da avó? é preciso ter orgulho, ou arranca-se os olhos...
Quando estagiava na casa de Freda ela me contou uma história de como seu trabalho foi aceito no Brasil. Quando ela voltou para o Brasil, de Ravena, berço do mosaico, encontrou muita dificuldade em adquirir as pastilhas italianas, então passou a lançar mão do material disponivel no Brasil,uma diversidade de pedras que não há em outro lugar, e divinhem... seu trabalho não foi aceito, ela foi criticada e boicotada na academia, pois o mosaico italiano era referência, e aquilo que Freda fazia era, além de novo um produto nacional. Vocês devem saber como é a receptividade do brasileiro para com o produto estrangeiro em comparação para com o nacional, se esse estrangeiro for europeu então...
Freda preparou uma exposição, mosaico brasileiro, e rumou para os Estados Unidos, lá ela foi aclamada, seu trabalho obteve ótima critica, fato que a deixou muito motivada, então, ela tomou fôlego e foi vencer a tal "angústia", apresentando sua obra em Ravena. Ela me contava de seu nervosismo, até que entrou um crítico de arte na galeria, olhou, olhou, e disse: "se isso não é mosaico, com certeza é filho do mosaico".
Agora, com sua obra aclamada na Itália e nos esteites ela volta para o Brasil, e adivinhem de novo? ela foi aclamada, aceita, elogiada, enfim...
Freda me contou muitas vezes esta história, entre tantas outras... dizia da dificuldade de ser artista por aqui.
Bem, ano que vem vou completar 13 anos (adoro este número) de mosaicancia, a esta altura do campeonato, penso que é só celebrar, agradecer, estar viva é uma dádiva... digo mui solenemente aos meus "criticadores": "vão catar caquinho!!!!", aos meus admiradores, incentivadores: "Obrigada por fazerem a diferença na minha vida", aos amigos: "sejam sempre sinceros comigo, se doer eu corro pra terapia" e a mim mesma: "vai Renata, segue teu caminho".

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